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Inimá de Paula

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Currículo

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A partir de 1937, freqüenta o Núcleo Antônio Parreiras, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1940, instala-se no Rio de Janeiro, matriculando-se nas aulas de Argemiro Cunha (1880-1940) no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, as quais abandona em pouco tempo. Passa a pintar com alguns dos ex-integrantes do Núcleo Bernardelli. Em 1944, transfere-se para Fortaleza, onde conhece artistas locais e participa da criação da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP). Volta ao Rio de Janeiro em 1945 e expõe com Aldemir Martins (1922-2006), Antonio Bandeira (1922-1967) e Jean-Pierre Chabloz (1910-1984), na galeria Askanasy. Em 1948, graças ao apoio de Candido Portinari (1903-1962), faz sua primeira mostra individual no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ). Em 1950, ganha o prêmio de viagem ao país do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA) e, no ano seguinte, viaja e expõe na Bahia. Em 1952, recebe o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM). Em Paris, entre 1954 e 1956, assiste a cursos na Académie de la Grande Chaumière e na École Normale Supérieure des Beaux-Arts. Em seguida, acompanha as aulas de André Lhote (1885 - 1962) e de Gino Severini (1883-1966). Quando volta, passa a fazer pinturas abstratas, algumas das quais mostra na 5ª Bienal de São Paulo. Na primeira metade dos anos 1960, muda-se para Belo Horizonte e retoma a pintura figurativa. Em 1998 é criada a Fundação Inimá de Paula em Belo Horizonte.

Inimá é conhecido como "o fauve brasileiro"1 em razão das cores fortes e vibrantes com que pinta e que são de fato característica marcante do seu trabalho. São vermelhos, azuis, amarelos e verdes que parecem puros e são inscritos na tela com movimentos vigorosos. Em alguns casos, ele lembra Henri Matisse (1869-1954) de La Plage Rouge (1905) e, em outros, o expressionismo. Como na marinha Pequeno Porto (1987), toda de cores intensas, ou ainda em alguns auto-retratos, em que traços vigorosos e cores sombrias conferem perturbação à figura.

Entretanto, durante toda sua carreira, Inimá também realiza obras em que os brancos e cinzas dominam. Seja nas paisagens urbanas de Santa Teresa, seja nas marinhas cearenses, ou mais tardiamente nas vistas mineiras, o branco é utilizado como cor, conferindo ainda mais tranqüilidade às cenas já praticamente desprovidas de ação. Muitos críticos enfatizam tal aspecto.2

Outro ponto que costuma definir a obra de Inimá é a predominância da paisagem, especificamente a urbana. A combinação da arquitetura com a natureza permite ao pintor realizar composições muito equilibradas, em que tende a cobrir a maior parte da tela, deixando pouco espaço para o céu, alternando as cores organizadas no casario com as manchas de cor da vegetação.

Todavia, ele também pinta retratos, naturezas-mortas e composições abstratas. As naturezas-mortas revelam influências de Paul Cézanne (1839-1906) e Matisse, tanto no traço e nas cores quanto nos objetos. Seu período abstrato é variado, abarcando composições mais cubistas que mantêm um resquício de figura, e outras mais informais.

Notas
1MORAIS, Frederico. Inimá de Paula. Rio de Janeiro: L. Christiano, 1987, p. 15.
2MORAIS, Frederico. Op cit., p. 23 e, por exemplo, Rubens Navarra em SAMPAIO, Renato. Inimá. Belo Horizonte: Rona, 1999, p. 172.

"Não se pode falar propriamente de fases na pintura de Inimá de Paula. Ou, pelo menos, elas não estão bem delimitadas temática e formalmente. No máximo, pode-se circunscrever sua produção aos seus deslocamentos geográficos, mesmo assim precariamente, porque, acima deles, está o próprio estado de espírito do artista. Não há um desenvolvimento seqüencial ou linear de temas e colorido em sua obra. A cor, por vezes, irrompe furiosa em meio a longos períodos de predominância dos brancos e cinzas, e isto independe do lugar onde ele esteja. Da mesma maneira, em sua fase abstrata, ele não deixou de pintar obras figurativas. (...)

Porém, a marca mais visível e ao mesmo tempo a mais profunda é o fovismo, que se afirma plenamente em sua derradeira fase, a de Minas Gerais. Por intermédio do fovismo e de sua aproximação com a pintura de Kaminagai, ele se vincula à Escola de Paris, mas sem perder suas raízes brasileiras. Quando Inimá diz que sempre foi expressionista, é preciso entender bem o sentido de sua afirmação. Pode ser uma referência a momentos mais dramáticos de sua pintura, como o período carioca de 1967/1968, ou ele está empregando o termo no seu sentido mais amplo, o que define o expressionismo como uma tendência permanente da história da arte, que ressurge de tempos em tempos, sempre que existe uma crise, seja ela estética, seja moral, política ou econômica. Ou seja, o expressionismo seria o pólo da crise, por oposição ao pólo da construção, do qual o cubismo é exemplo. Crise e construção ou emoção e rigor seriam, então, as duas vertentes fundamentais da história da arte, cada uma delas abrigando diferentes escolas, ismos, tendências. Dentro desta perspectiva mais ampla, o fovismo integra a vertente expressionista. Ou então, pode-se dizer que ele é uma das suas raízes, ao lado do Die Brücke e do Blau Reiter, nascidos na Alemanha, pátria por excelência do expressionismo.

(...) Tudo o que deseja Inimá, com sua pintura, é alcançar uma atmosfera vibrátil para a cor. Como ele diz: 'Trabalhar o quadro sem magoá-lo, de forma espontânea, fluídica, uma pincelada, outra, mais outra, mas sem perder o sentido da forma, buscando sempre a ressonância e vibração da cor'. "

Obras