O pintor, que já recebeu do governo de Minas Gerais a Comenda Santos Dumont, em 1983, além de ter realizado ilustrações para o "Suplemento Literário" do Jornal Minas Gerais, órgão da Imprensa Oficial de Minas Gerais, apresenta ainda familiaridade no uso com as cores, que se harmonizam com o ambiente a ser mostrado.
Situações de festa, como uma roda de samba, ilustram bem a técnica de Mariano. Os olhares das moças que dançam no centro da tela, dos instrumentistas e das figuras mais ao fundo criam um autêntico labirinto de possibilidades de interpretação da tela. Olhares de soslaio e de frente para o espectador oferecem múltiplas possibilidades, prendendo a atenção para o diálogo interno que a tela oferece.
A vivacidade da reunião é reforçada com a presença de cores quentes, principalmente na roupa das passistas, que se integram às dos músicos. O fundo acompanha a atmosfera criada pelo artista, valendo-se de tonalidades mais fortes que transmitem intensidade e vibração ao quadro.
Quando a cena é mais calma, como a de mulheres trabalhando junto a um curso de água, as cores também se alteram. Surgem alguns tons pastel que reforçam a idéia de integração e harmonia que a execução de tarefas em conjunto exige. O fundo também surge mais suave, compondo um clima de maior compenetração na atividade desenvolvida.
Por esse motivo, os olhares não se cruzam tanto entre as personagens. Cada mulher parece absorta em sua tarefa, enfrentando o desafio individual da subsistência, com dedicação, empenho e persistência. A imagem é uma metáfora do próprio ofício do artista, que necessita o convívio social para existir, mas que, no momento máximo de criação, só pode contar com si mesmo - com seu talento e capacidade técnica.
Quando Mariano traz para sua obra um conjunto de músicos, a questão do olhar surge ainda mais forte. Os integrantes de uma banda olham todos para fora do quadro, indicando que a música apenas se realiza no ouvinte, assim como a tela apenas se completa com o espectador atento.
A arte de Mario Mariano consolida-se assim como a capacidade de trabalhar cores e formas com propriedade. Seja mais introspectiva em suas imagens ou mais explosiva em sua vibração interna, cada tela cria um universo próprio, no qual o artista coloca sua visão de mundo, manifesta, principalmente pela troca de olhares entre as personagens do quadro.