Yara
Tupynambá (Montes Claros, Minas Gerais, 1932). Gravurista, desenhista,
muralista, professora de gravura. Sua produção artística, predominantemente
figurativa, relaciona-se fortemente com o modernismo
brasileiro e mantém relações com momentos e temas históricos
brasileiros, produzindo uma arte que dialoga com o povo. Sua vasta produção em
murais se liga ao muralismo mexicano, que almeja produzir beleza para todos.
Para o
crítico de arte Walmir Ayala
(1933-1991), a produção da artista está relacionada a temas das
lendas e da história de Minas Gerais, que são retratados com clima de magia. O
crítico de arte Roberto Pontual (1939-1994) também aponta para a ligação muito
próxima da artista com a terra e a história mineiras. O crítico de arte Enock
Sacramento (1937) lhe atribui uma “mineiridade”, isto é, uma afinidade e um
amor por seu estado natal.
Sua formação
se dá em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, tem aulas com o
pintor Alberto da
Veiga Guignard (1896-1962) e o escultor austríaco Franz
Weissmann (1911-2005) na Escola de Belas Artes da Universidade
Estadual de Minas Gerais (Uemg). Para sua formação informal, tem peso a
frequência na Livraria Itatiaia, nessa mesma cidade. No Rio de Janeiro, estuda
na Escola
Nacional de Belas Artes (Enba), onde tem aulas com o
gravurista Oswaldo
Goeldi (1895-1961). Também foi bolsista no estadunidense Instituto
Pratt, especializado em gravura.
Começa sua
produção artística com o desenho. Após exposição da gravurista carioca Misabel
Pedrosa (1927-2005), em 1956, em Belo Horizonte, encanta-se com a
técnica e tem aulas com essa artista.
Sua primeira exposição coletiva acontece em Belo Horizonte, em 1959. Sua
primeira individual ocorre no ano seguinte, na mesma cidade. A partir de então,
participa extensivamente de exposições no Brasil, além de algumas nos Estados
Unidos e em outros países. Entre as exposições nacionais, destacam-se os salões
de arte moderna de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo e a Bienal de São
Paulo. Ganha diversos prêmios em salões, principalmente por suas gravuras.
Atua como
professora de gravura na Escola de Belas Artes da Uemg (atual Escola Guignard)
e da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
sendo uma das fundadoras desta. Também oferece cursos de curta duração em
outros estados.
Realiza
diversos murais em Minas Gerais em instituições variadas como bancos,
associações de jornalistas e hotéis. São 104 painéis e murais instalados no
Brasil. Sete deles são tombados pelo Patrimônio Histórico Cultural de Belo
Horizonte.
O mural Inconfidência
mineira (1969), com 3,4 metros de largura por 37 metros de comprimento
e executado em tinta acrílica sobre placas de ocaplan, encontra-se no edifício
da reitoria da UFMG. Para a artista, o único tema do mural é “a luta do homem
na conquista de sua liberdade de expressão”1. Nele,
retrata-se a história de Tiradentes sob viés heroico. Representa personagens da
história brasileira, tais como Silvério dos Reis e Rainha Maria I, e alguns
cavalos, apenas nas cores preta e amarela, sem profundidade. Segundo a própria
artista, escolhe-se uma forma de contar a história que remete às histórias em
quadrinhos. Mais tarde, em 1973, também utiliza recursos semelhantes quando
executa o mural Do descobrimento ao ciclo mineiro do café, na Assembleia
Legislativa do Estado de Minas Gerais.
O crítico de
arte Pierre Santos escreve, em poema de 1973, sobre desenhos da artista que
estavam expostos em galeria paulistana. O eu-lírico se mostra surpreso que a
artista também realiza desenhos, já que essa produção difere tecnicamente muito
da gravura. Os desenhos são definidos como “poemas de alegria e sonho”2.
Nessa fase, predominam em suas obras a cor, os símbolos e a fantasia.
A artista
trabalha também com temas advindos de poemas do poeta Carlos
Drummond de Andrade (1902-1987), tais como sua relação com Minas
Gerais, suas relações familiares e suas emoções e produz telas, murais e
desenhos, alguns dos quais foram expostos em 1992.
Um dos
desenhos, sem título, apresenta cena doméstica, situada provavelmente no início
do século XX, com duas crianças. O menino, sentado, está representado em tons
de cinza e segura com a mão esquerda uma rosa colorida. Uma pomba branca está
pousada em sua cabeça. A menina está com um vestido de apenas uma cor e seu
único item colorido é uma fita em sua cintura. Ambos têm feições profundamente
tristes. Em primeiro plano, estranhos animais circulam. Ao fundo, recortes de
uma cidade interiorana. A cena, como um todo, transmite a desorganização do
ambiente e da vida emocional, possivelmente retratando o luto da mãe morta.
Yara
Tupynambá tem carreira de décadas que desenvolve coerentemente certos temas.
Entre eles, estão aqueles ligados à vida e à história mineiras. Também
desenvolve temas ligados às emoções das figuras retratadas. Suas produções mais
marcantes são aquelas em gravura e em mural, sendo que tem diversos murais em
recintos importantes de Belo Horizonte.